É interessante como Santos coloca a questão da paisagem como um momento histórico temporal, logo a paisagem é um passado, um fato histórico e o espaço é sempre presente. “A paisagem é história congelada, mas participa da história viva.” (SANTOS, 2002, pg. 107, grifo nosso) Ou seja a paisagem, ainda que faça parte de um espaço (que é sempre presente) é passado. A paisagem é um resultado final do acúmulo de presentes que coexistem no espaço.
A paisagem diz respeito às coisas e aos objetos. Podemos considerar a paisagem como um resultado e ao mesmo tempo condicionante material do espaço numa construção transversal e transtemporal como coloca Santos:
A paisagem se dá como conjunto de objetos reais-concretos. Nesse sentido a paisagem é transtemporal, juntando objetos passados e presentes, uma construção transversal. O espaço é sempre um presente, uma construção horizontal, uma situação única. (SANTOS, 2002, pg. 103, grifo nosso)
A paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homens e natureza. O espaço são essas formas mais a vida que as anima. (SANTOS, 2002, pg. 103)
Segundo Santos, podemos dizer que a paisagem é relativa ao material, um sistema material e o espaço à ação que dinamiza e transforma a paisagem, ou seja, um sistema de valores. “[..] A paisagem é, pois, um sistema material e, nessa condição, relativamente imutável: o espaço é um sistema de valores que se transforma permanentemente. [...]” (SANTOS, 2002, pg. 103) O espaço é dotado de tempo, é sempre um presente porque sua dinâmica temporária é constante, não para. A paisagem pode ser de um tempo outro que não o presente. Se não é presente, logo a paisagem é referente a algo passado. A paisagem enquanto passado pode ser perfeitamente desprovida de um tempo contínuo, sem a dimensão temporal.
Santos aproxima o espaço do cotidiano urbano ao afirmar que o espaço é a sociedade encaixada na paisagem. E a partir deste momento podemos falar de uma paisagem humana. Aqui também podemos fazer um paralelo a Lefebvre que fala insistentemente da relação de uma sociedade e de um corpo social na produção do espaço.
Segundo C. Reboratti (1993, p.17) ‘a paisagem humana é uma combinação de vários tempos presentes’. Na verdade, paisagem e espaço são sempre uma espécie de palimpsesto onde, mediante acumulações e substituições, a ação das diferentes gerações se superpõe. O espaço constitui a matriz sobre a qual as novas ações substituem as ações passadas. É ele, portanto, presente, porque passado e futuro. (SANTOS, 2002, pg. 103 e 104, grifo nosso)
A paisagem é um instrumento para entender o espaço e tratar suas questões, “[...] a paisagem é apenas uma abstração, apesar de sua concretude como coisa material. [...]” (SANTOS, 2002, pg. 108) Aqui temos a hipótese de que a paisagem é um produto, uma abstração criada pelo homem que o permite falar, perceber e analisar o espaço. A paisagem é uma construção histórica e é através dela que nós podemos estudar o espaço.

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