sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

a paisagem temporária



A paisagem é um recurso operativo que nos permite analisar o espaço. Primeiramente é importante destacar que a paisagem não é formada apenas de volumes e formas, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc. A paisagem é materialidade formada por objetos materiais e não-materiais.

a paisagem material

A paisagem material é tátil, visível e tem permanência, ou seja, por mais que os eventos ao longo do tempo a modifiquem ela sempre estará lá. O fato dela ser permanente não quer dizer que não seja mutável. Ela é sempre o passado ainda que recente. É como se fosse a marca de um evento anterior que se apresenta, se faz presente e está disposto a ser transformado pelo tempo. A paisagem material é o templo de uma igreja, são os edifícios de uma cidade, é o banco de uma praça, uma cadeira numa sala, uma árvore, um campo gramado, uma praia, etc. Tudo que pode ser apreendido pela visão e ser tocado é uma paisagem material. Esta paisagem é a paisagem frequentemente operada pelos paisagistas, fotógrafos, ambientalistas, artistas, defensores do patrimônio histórico, arquitetos, etc. É uma paisagem frequentemente discutida, afinal, é à que nós atribuímos valores financeiros, sentimentais e simbólicos. É uma paisagem que pode ser apropriada, pode-se tomar posse, daí o seu valor agregado.

Uma cidade temática de um parque de diversões é uma paisagem artificial, uma paisagem falsa, uma simulação criada pelo homem. As relações do seu cotidiano são baseados num sistema fictício, é um ambiente que existe às custas de uma sistematização espetacular e que para tal funcionamento carece do empenho de recursos humanos (financeiros ou não) que podem ser desfeitos num piscar de olhos. É uma cidade baseada numa construção artificial tal que nos é possível pensar na sua extinção a qualquer momento. Já para uma cidade como Roma, sua extinção seria muito menos factível. Aqui está o verdadeiro sentido de permanência da paisagem. É uma permanência que está em constante transformação. E esta transformação é natural.

A paisagem material, apesar de ser a maior condicionante do espaço vivido, de ser a mais freqüentada pelos arquitetos, faz parte deste ensaio fotográfico não com destaque para suas características materiais físicas, mas atentando para suas possibilidades de condicionar as transformações que o homem realiza no espaço num recorte temporário. A partir da proposição de outras paisagens operativas poderemos tentar buscar uma outra forma de perceber e analisar o espaço.

a paisagem temporária

A paisagem temporária é essencialmente humana e corporal. Ela pressupõe um corpo para percebe-la e/ou (re)produzi-la. É a paisagem da percepção, das sensações e dos sentidos corporais. É uma paisagem efêmera de permanência frágil e temporária.

Sabemos que o espaço possui uma dimensão geométrica temporal, logo, o que estamos propondo aqui, seria a ampliação do potencial operativo da paisagem a partir da sua dimensão temporal. A paisagem material supervaloriza o espaço geométrico. A paisagem temporária supervaloriza os processos que afetam a paisagem material. A paisagem operativa que estamos propondo parte da hipótese de que se queremos perceber e analisar o espaço precisamos operar com instrumentos que sejam capazes de lidar com todas as suas dimensões, geométricas e temporárias. Daí a importância de introduzirmos os ritmos do cotidiano à analise do espaço. Os ritmos estão no nosso corpo; são percebidos e (re)produzidos pelo corpo. O tempo é dado pelo nosso corpo numa percepção relativa. As ações são conseqüências dos ritmos do nosso cotidiano.

O que temos aqui pode ser entendido como uma paisagem do tempo.
Logo para nós não nos interessa a dimensão geométrica do espaço, não nos interessa a paisagem material. O que está em questão é a dimensão temporal do espaço e uma paisagem que é dada pelo corpo no espaço. Esta paisagem temporária pode ser entendida também como paisagem dos ritmos, ou uma paisagem dos eventos.

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